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sexta-feira, 9 de abril de 2010

As chuvas são inocentes. As cidades é que estão na contramão da natureza


José Adalberto Ribeiro* joseadalbertoribeiro@hotmail.com  


Mais de duas décadas perdidas no desenvolvimento do Brasil --desde o início dos anos 1980 até meados de 2000 – produziram milhões de excluídos e desempregados, um déficit habitacional também na casa dos milhões, a explosão populacional desordenada, a desagregação social, a violência e a delinqüência sem controle – e também produziu bilhões de dólares pagos em juros ao sistema financeiro parasitário, para sustentar um modelo econômico antipatriótico e perverso contra a maioria dos brasileiros.


As conseqüências acontecem sempre depois, nunca antes, ensinou o Conselheiro Acácio, o filósofo do óbvio, filho espiritual de Eça de Queiroz. O Brasil vivencia hoje em tragédias as conseqüências das décadas perdidas. As moradias construídas nos morros e erosão, as construções em cima de lixões, os próprios lixões, os loteamentos irregulares e clandestinos, as milhares de casas que desmoronam hoje sob o efeito das chuvas já estavam condenadas a desmoronar desde o nascedouro. As chuvas foram a gota d’água.


A inflação e os desgovernos das décadas perdidas roubaram o futuro dos brasileiros e construíram os palácios suntuosos dos banqueiros. Os bancos são os palácios dos séculos 20 e 21, alguém já disse.


Depois das tempestades ... vem a ambulância, dirão com crueldade. Haja milhões e milhões para obras emergenciais. É a cantiga de sempre ... sem prevenção, impõe-se remediar as tragédias.  


Sempre que ocorre uma tragédia social por conta de inundações, chovem milhões dedicados a obras emergenciais de reconstrução de pontes, moradias e equipamentos sociais. Grande parte dessa dinheirama se extravia na burocracia oficial. Se existe sempre essa dinheirama nos cofres secretos, se as favelas, os morros, os lixões e as periferias são uma emergência permanente, deveria ser decretado um estado de guerra contra a pobreza no Brasil.


Regido pela lei da inércia, o Brasil decretou a lei do jeitinho e vamos tocando as emergências com a barriga. É a lei da barriga. Uma bolsinha aqui e acolá opera a lei do jeitinho.          


O Brasil das décadas perdidas é o País dos lixões, das favelas, dos cortiços desumanos, das doenças da pobreza tipo a dengue que hoje se dissemina em todas as classes sociais.


Nos tempos dos marimbondos de fogo de Ribamar Sarney as elites parasitárias se lambuzavam na parasitagem financeira e as raposas mamavam nos terreiros do compadrio. Ó comadre, ó compadre, governar era uma ação entre amigos do peito. 


Decretado em 1994, há 16 anos, o Plano Real consumiu pelo menos 13 anos para estabilizar, melhor, para tentar estabilizar a economia e gerar o chamado “superávit primário” para produzir montanhas bilionárias de juros em favor do sistema financeiro parasitário.


No segundo governo de Lula, de três anos para cá, o governo conseguiu algum refresco para investir em infraestrutura. Está correndo atrás do prejuízo de décadas e da secular dívida social.


O caos urbano e a violência imperam nas metrópoles, a exemplo maior de São Paulo e Rio de Janeiro. Pior é que não tem remédio a médio prazo e a longo prazo ... Deus tenha misericórdia.


As chuva e inundações são inocentes. Apenas cumprem as leis da natureza. As cidades do Brasil estão sendo construídas na contramão da natureza.


Hoje o Brasil respira democracia, vírgula. E vamos ficando por aqui. Noves fora a ditadura dos banqueiros, contra todas as aparências.


Eis um exemplo vulgar e silvestre: os bancos no Brasil são as casas de intolerância mais lucrativas do mundo, mais lucrativas que as matrizes em Hong Kong, Xangai, Londres ou Nova York. As instituições financeiras são as que menos pagam impostos e geram empregos. Vivem da extorsão dos juros e das taxas.


Mas, não existe governo, nem ministério da fazenda, nem banco central que tenha força para forças os banqueiros a cobrar taxas e juros honestos, nem ampliar o horário de atendimento à população para gerar mais empregos. Ao contrário, as máquinas bancárias a cada dia expulsa trabalhadores do mercado de trabalho.


A ditadura política no Brasil era biodegradável e desmoronou com a revogação do AI-5 em 30 de dezembro de 1978. As ditaduras econômicas, tipo a ditadura do sistema financeiro parasitário, continuam a infelicitar o Brasil, muito além das décadas perdidas.


*Jornalista

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