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segunda-feira, 14 de março de 2011

Xícara de açúcar

Estou sozinha no apartamento pela primeira vez. Olho para os armários, com a intenção de decorar suas gavetas. Tateio paredes para descobrir seus interruptores de luz. Quando entro no quarto, me assusto ao ver um vulto de mulher - sou eu mesma refletida no espelho colado à porta do banheiro. Encaro o gato e ele mia para mim.

O chato de se mudar é ficar sem: sem fogão, sem máquina de lavar, sem ar condicionado nem ventilador de teto, sem tevê a cabo e sem telefone. Quando você pisa no apartamento novo, está imediatamente sem referências, sem lembrar em que caixa enfiou o saca-rolhas, sem saber onde tem um bom sapateiro, sem um único imã de geladeira. Mas o pior é ficar sem conexão.

Oi, meu nome é Rosana e estou há três dias sem internet. Síndrome de abstinência. Vertigem, tremores, tonteiras. Abro o laptop e, tal qual um gatuno, mando o computador procurar, o mais rápido possível, as conexões de rede sem fio disponíveis. Ele encontra dezenas de opções que me levam à euforia em poucos segundos. Alucinações, ansiedade. É quando me dou conta de que todas são protegidas por senha.

Não tem mais bobo na internet.

Renatinha, Fabiana, Cris, Beta 2011. Todas trancadas. Ferreira, Família Sigel, Gávea, chopp, Obina. Aplle Home, Maison Blanche. Me intrigam os nomes que os vizinhos escolhem para batizar suas redes. Encontro uma conexão como o nome default do roteador, Dlink, e aposto metade das minhas caixas como a senha é 12345678. Não é. Tento 87654321. Droga.

Com o computador nos braços, caminho do quarto para a sala, da sala para a varanda e da varanda para o escritório. Vou à cozinha, ao quarto de empregada, me apoio no tanque à procura de um vizinho descuidado que tenha deixado sua conexão sem cadeado. Em vão.

Quero bater na porta do 801, dizer o meu nome - Oi, meu nome é Rosana -, contar que sou nova por estas bandas e perguntar se ele pode me emprestar, só por uns dias, dois, no máximo três, a sua senha. Por favor.

Pedir a senha da internet sem fio é, ou devia ser, como pedir uma xícara de açúcar.

Rosana Caiado

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