Adolescentes americanos, proibidos de comprar bebidas alcoólicas antes
dos 21 anos, descobriram mais uma forma de burlar a lei para se
embriagar: bebendo os onipresentes e baratos géis de limpar as mãos.
Desde março, foram registrados em Los Angeles 16 casos de adolescentes
que foram parar no hospital por envenenamento causado pela ingestão de
álcool em gel, de acordo com o Sistema de Controle Tóxico da Califórnia.
Os casos começaram a ser registrados em 2010 e, desde então, já foram 60 ocorrências no Estado.
Frascos de vários tamanhos são vendidos livremente em farmácias e
mercados. Em geral, o produto contém 60% de álcool etílico. Alguns
adolescentes usam sal para destilar a bebida seguindo instruções
disponíveis na internet.
"É uma dose de bebida pesada", disse a uma rádio local Cyrus Rangan,
diretor de toxicologia do Departamento de Saúde Pública do Condado de
Los Angeles. "Com alguns goles você tem um adolescente bêbado. São
poucos casos, mas podem sinalizar uma tendência perigosa."
A empresa Purell, líder no mercado de gel nos Estados Unidos, diz que
todos os seus produtos têm ingredientes de "gosto desagradável" para
desencorajar o uso indevido. "Usar sal para filtrar não remove o gosto
amargo", disse à Folha Joe Drenik, diretor de comunicação da firma.
Médicos passaram a recomendar o uso de limpadores de mão em forma de
espuma, uma vez que seria mais difícil de extrair o álcool. O gel, no
entanto, é só mais um produto numa lista de vários outros de fácil
acesso usados por adolescentes para se embriagar, como xarope para tosse
e enxaguante bucal.
"Beber gel não parece atraente, mas a garotada não tem acesso a bebidas
alcoólicas e é bem criativa", disse ao jornal "Los Angeles Times" o
médico Billy Mallon, que trabalha no hospital da Universidade do Sul da
Califórnia.
Enquanto críticos reclamavam de uma suposta atenção exagerada da mídia
aos casos, no fim de maio outra polêmica foi parar nos jornais. Numa
penitenciária do Alabama, o gel foi banido após quatro presos serem
hospitalizados depois de ingeri-lo.
NO BRASIL
Por aqui, não é comum ver adolescentes fazendo malabarismos para extrair
álcool de gel, afirma Ana Cecília Marques, psiquiatra do Instituto
Nacional de Políticas sobre Álcool e Drogas.
Para ela, apesar de a lei proibir a venda de bebidas para menores de 18
anos, não existe um controle muito rigoroso: "O acesso à bebidas é fácil
e o preço é mais baixo que os de itens de higiene. Estudos já mostraram
que 70% dos menores conseguem comprar bebidas", afirma.
Segundo Camila Magalhães Silveira, psiquiatra e coordenadora do Cisa
(Centro de Informações sobre Saúde e Álcool), além do risco de
embriaguez, o consumo de álcool em gel ou enxaguante bucal pode causar
cegueira, mal-estar hepático, gastrite, úlcera e hepatite.
"Muitos produtos têm metanol e substâncias emolientes. E o álcool usado é
impróprio para o consumo, não foi fermentado ou destilado", diz.
Folhapress
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