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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Combate ao crack precisa incluir grupos de autoajuda, diz especialista

O coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e outras Drogas (Inpad), Ronaldo Laranjeira, criticou nesta quinta-feira (25) as ações do governo no combate ao crack. Segundo ele, o governo precisa incluir os grupos de autoajuda na política de combate ao crack e outras drogas.


"Parte do problema é que o governo não escuta a sociedade civil. Ele se baseou apenas em análises técnicas para traçar a política [de combate ao crack]", disse Laranjeira ao G1 após fala que foi aplaudida por participantes do 1º Seminário Nacional sobre Aspectos Médicos e Sociais Relacionados ao Uso de Crack, promovido pelo Conselho Federal de Medicina nesta quinta, em Brasília.


O coordenador afirmou que a política de redução de danos aplicada pelo governo nas medidas de combate ao vício vai contra o pensamento de grupos como os Narcóticos Anônimos ou os Alcoólicos Anônimos, que pregam a busca da abstinência.
A secretária-adjunta da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) – órgão ligado à Presidência da República –, Paulina Duarte, participou do seminário e rebateu as críticas de Ronaldo Laranjeira. Ela apresentou um resumo dos investimentos federais feitos nas ações de combate ao uso do crack, como a criação de 30 Centros de Referência de Formação Permanente e a disponibilização de 2.500 leitos em hospitais públicos para tratamento de viciados.


"O lema dos grupos de autoajuda é 'só por hoje, não usar drogas'. Já a política atual não tem ênfase na abstinência, e sim na redução do consumo", afirmou Laranjeira. Segundo ele, os grupos de autoajuda são responsáveis pela maioria dos atendimentos a viciados no país, e perto disso os atendimentos providenciados pelo governo chegam a ser "irrisórios".


"A fala do dr. Ronaldo não é verdade, se considerarmos que o governo vem fazendo um investimento gigantesco. Esses investimentos foram responsáveis, inclusive, pela criação do instituto que ele dirige [Inad], que é financiado integralmente com recursos da Senad", declarou a secretária. Paulina afirmou que a secretaria destinou em 2010 cerca de R$ 4 milhões para as instituições religiosas e grupos de autoajuda, com o intuito de "fortalecer a rede."


A secretária também falou sobre uma pesquisa feita pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que pretende levantar dados nacionais sobre o consumo do crack. Segundo ela, o estudo tem custo de R$ 7 milhões ao governo federal e deve apresentar os primeiros resultados em dezembro deste ano.


Parcerias
A Senad informou que em 2006 fez uma parceria com a Universidade de Brasília (UnB) e com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IpeaA) para a realização do “Mapeamento das instituições governamentais e não-governamentais de atenção às questões relacionadas ao consumo de álcool e outras drogas no Brasil”, no qual foi identificada uma grande participação da sociedade civil na rede de atenção existente no Brasil, por meio de instituições de cunho religioso.


Desde então, a Senad afirma ter desenvolvido, dentro do governo e com a participação da sociedade, o projeto de “Prevenção do Uso de Drogas em Instituições Religiosas e Movimentos Afins – Fé na Prevenção”. Esse projeto, segundo a Senad, reconhece o importante papel desempenhado pelas instituições religiosas no reforço dos valores éticos fundamentais, determinantes nas ações de prevenção do uso de álcool e outras drogas.


De acordo com a Senad, o “Fé na Prevenção” oferece aos líderes religiosos um vasto material teórico, com embasamento científico, além do curso de capacitação em prevenção do uso de drogas.


Outro programa que também envolve grupos da sociedade civil , segundo a Senad, é o “Curso de Formação em Terapia Comunitária – com ênfase nas questões relativas ao uso do álcool e outras drogas”, no qual lideranças comunitárias são preparadas para responder às questões apresentadas pelos participantes das terapias sobre a questão das drogas.


Somando os dois cursos, mais de 5 mil inscritos já foram capacitados para atuarem como agentes multiplicadores na prevenção e também no encaminhamento de situações decorrentes do uso abusivo e da dependência de drogas, segundo informação da Senad. Atualmente, estão sendo ofertadas mais 5 mil vagas no curso para lideranças religiosas. Outras mil serão ofertadas a terapeutas comunitários.


A Senad destaca ainda como ação postiva o Plano de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas, com ações de prevenção, tratamento e reinserção social do usuário de crack. No âmbito do plano, foram abertos editais para a ampliação da rede de atenção aos usuários de crack e outras drogas, com oferta de 6.120 leitos e capacitação para os profissionais que trabalham com essa população.

Fábio Tito
Do G1, em Brasília

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