Esse relato consta de um telegrama confidencial de 24 de dezembro do ano passado preparado pela ministra conselheira Lisa Kubiske, da Embaixada dos EUA em Brasília.
No despacho, ela relata a seus superiores as oportunidades comerciais e de aproximação estratégica com o Brasil durante eventos esportivos globais, como a Copa de 2014 e a Olimpíada.
Pelo menos uma diplomata brasileira, Vera Alvarez, chefe da Coordenação-Geral de Intercâmbio e Cooperação Esportiva do Itamaraty, é citada também falando sobre o risco de terrorismo no país.
"[Ela] admite que terroristas podem atingir o Brasil por causa da Olimpíada, uma declaração pouco usual de um governo que oficialmente acredita que não exista terrorismo no Brasil", relata.
Durante a campanha para sediar o evento, o presidente Lula sempre citou como ponto positivo o fato de o Brasil não ser alvo de terrorismo.
O documento lido pela Folha com exclusividade faz parte de um lote de centenas de telegramas diplomáticos norte-americanos que estão sendo gradualmente divulgados pela organização não governamental WikiLeaks. A Folha.com criou uma seção especial sobre o caso.
O despacho produzido pela Embaixada dos EUA traça um histórico a respeito da vitória do Brasil na disputa para sediar a Olimpíada.
Há menção ao uso eleitoral a favor da então pré-candidata a presidente, Dilma Rousseff. "[O presidente] Lula busca turbinar sua já alta taxa de aprovação e então usá-la para ganhar apoio para Dilma Rousseff."
Para a diplomacia dos EUA, apesar de o governo brasileiro admitir reservadamente riscos na segurança do país na Olimpíada, pouco está sendo feito a respeito. Aí abre-se um espaço para a influência norte-americana.
"Já há oportunidades para o governo dos EUA buscar cooperação a respeito da Olimpíada, e usar essa cooperação para ampliar seus objetivos no Brasil, incluindo fornecer mais experiência sobre atividades de contraterrorismo", diz o telegrama.
Mas o tom geral do relato é de desconfiança. Depois de vencer a disputa para sediar os jogos, diz a diplomata dos EUA, "o risco é que o governo brasileiro escolha relaxar com os louros da vitória e não comece a planejar".
Quase no final do documento, a norte-americana conclui dizendo que os EUA podem acabar tendo de socorrer o Brasil. "Articular objetivos mais amplos e deixar os detalhes para o último minuto pode ser o jeito tipicamente brasileiro de fazer as coisas, mas pode resultar em problemas", diz o texto.
"Os atrasos que nós esperamos do governo do Brasil em planejar e executar trabalhos preparatórios para que haja sucesso na Copa do Mundo e na Olimpíada vão quase com certeza colocar um ônus maior no governo dos EUA para garantir que o padrão necessário seja alcançado", continua.

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