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Segundo pesquisadores de legislação e tecnologia, levaria cerca de um mês para um usuário da internet ler as políticas de privacidade de todos os sites visitados num ano. Para ganhar tempo, eis o que importa: sabe aquele sonho onde você subitamente percebe que está completamente nu? Ele é real sempre que você abre seu navegador.

Não existem segredos online. Aquele e-mail emotivo que você enviou à sua ex, a doença pesquisada durante uma crise de hipocondria, as horas gastas vendo vídeos de gatinhos – tudo pode ser reunido para criar um perfil definitivo de você.

Suas informações podem ser armazenadas, analisadas, indexadas e vendidas a corretores de dados – que, por sua vez, podem vendê-las a anunciantes, empregadores, seguradoras ou agências de avaliação de crédito.

E embora seja provavelmente impossível ocultar por completo suas atividades online, é possível tomar medidas para fazer o equivalente tecnológico a vestir cuecas e uma camiseta. Algumas dessas medidas são bastante simples, e muitas são gratuitas. Obviamente, quando mais esforço e dinheiro você investir, mais escondido estará. O truque é encontrar o equilíbrio certo entre custo, conveniência e privacidade.

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Antes de frustrar os bisbilhoteiros, você precisa saber onde eles estão. Existem hackers agindo em pontos de conexão Wi-Fi, claro. Segundo especialistas em segurança e defensores da privacidade, porém, mais preocupantes são os provedores de serviços online, operadores de mecanismos de busca, servidores de e-mail e administradores de sites – especialmente quando uma única entidade age em mais de um campo, como Google, Yahoo, Facebook e AOL. Isso significa que eles podem facilmente coletar seus dados e cruzar referências – ou seja, juntar seus e-mails ao seu histórico de navegação, descobrir sua localização e identificar todos os dispositivos que você usa para conectar-se à internet.

"O pior de tudo é que eles vendem essa intrusão incrivelmente assustadora como um grande benefício em sua vida, oferecendo serviços personalizados para as suas necessidades", afirmou Paul Ohm, professor da Escola de Direito da Universidade do Colorado, em Boulder, especializado em privacidade de informações e crimes computacionais. "Mas a maioria das pessoas deseja realmente divulgar tudo isso? Não."

Ele aconselha encerrar a sessão de sites como Google e Facebook sempre que possível, e não usar o mesmo provedor para múltiplas funções. "Se você usa a busca do Google, talvez seja melhor não ter uma conta de e-mail do Gmail", disse ele.

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Se você não quer que o conteúdo de seus e-mails seja examinado ou analisado de forma alguma, o ideal seria considerar serviços gratuitos menos conhecidos, como HushMail, RiseUp e Zoho, que promovem políticas de "não bisbilhotagem". Ou registre um domínio com endereço de e-mail associado através de serviços como o Hover ou o BlueHost, que custam de US$ 55 a US$ 85 por ano. Além da garantia de privacidade por parte da empresa, você recebe um endereço de e-mail exclusivo – como eu(ARROBA)meudominio.com.

Ou desista totalmente de confiar sua correspondência eletrônica a terceiros – e crie seu próprio servidor de e-mails. Essa é uma opção não só para os paranoicos, segundo Sam Harrelson, professor do ensino médio e aficionado por tecnologia de Ashville, na Carolina do Norte, que neste ano criou seu próprio servidor usando um OS X Server (US$ 49,99) e um software da SpamSieve (US$ 30) para eliminar o lixo eletrônico.

"O tema das políticas de privacidade e o futuro dos nossos rastros digitais é especialmente fascinante e pertinente para mim, pois trabalho com crianças de 13 e 14 anos que estão acabando de começar a lidar com serviços como Gmail e todos os aplicativos do Google, além de Facebook, Instagram e games sociais", explicou ele. "Eu não tenho nada a esconder, mas me sinto desconfortável com tudo que deixamos à mostra."

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Mesmo com seu próprio servidor de e-mail, porém, o Google ainda terá os e-mails que você troca com amigos e colegas com contas do Gmail, afirmou Peter Eckersley da Electronic Frontier Foundation, grupo de defesa dos direitos digitais em São Francisco. "Você fica menos exposto", continuou ele, "mas não consegue escapar totalmente".

Outra tática de encobrimento é usar o mecanismo de busca DuckDuckGo, que se distingue com a política "Nós não rastreamos ou usamos a bolha em você!". "Usar a bolha" é filtrar os resultados da busca com base em seu histórico de pesquisas (e também significa que você tem menos chances de ver opiniões contrárias às suas ou de ser exposto a algo novo).

Independentemente do mecanismo de busca utilizado, especialistas em segurança recomendam a ativação do "modo privado" em seu navegador, encontrado geralmente no menu Preferências, Ferramentas ou Configurações. Quando esse modo está ativado, os cookies de rastreamento são removidos assim que você fecha o navegador – o que "basicamente limpa todo o seu histórico", disse Jeremiah Grossman, diretor tecnológico da WhiteHat Security, empresa de consultoria de segurança online em Santa Clara, na Califórnia.

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Mas ele adverte que o modo privado não faz nada para ocultar seu endereço IP, número exclusivo que identifica seu ponto de acesso à internet. Assim, os sites podem não conhecer seu histórico de navegação, mas provavelmente sabem quem você é e onde está – além de quando e por quanto tempo você visualizou cada página.

É possível proteger seu endereço IP conectando-se a uma rede virtual privada (ou VPN, da sigla em inglês), como as oferecidas pela WiTopia, PrivateVPN e StrongVPN. Esses serviços, cujos preços variam de US$ 40 a US$ 90 por ano, encaminham seu fluxo de dados ao chamado servidor proxy, onde ele é destituído do endereço IP antes de ser enviado ao destino final. Isso esconde sua identidade não só dos sites, mas também de seu provedor de internet.

Além disso, esses serviços criptografam os dados que entram e saem de seus servidores para que pareçam sem sentido a qualquer pessoa monitorando redes sem fio em locais como cafés, aeroportos e hotéis.

Embora os provedores VPN geralmente tenham rígidas políticas de privacidade, Moxie Marlinspike, pesquisador independente de segurança e desenvolvedor de softwares em São Francisco, declarou: "É melhor confiar no projeto do sistema do que numa organização". Nesse caso existe o Tor, serviço gratuito com 36 milhões de usuários que foi originalmente desenvolvido para ocultar comunicações militares. O Tor criptografa seu fluxo de dados e passa-o por uma série de servidores proxy, para que nenhuma entidade individual saiba a fonte dos dados ou de onde eles vieram. O único inconveniente é que, com todas essas paradas, o serviço é muito L-E-N-T-O.

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Complementos gratuitos aos navegadores, que aumentam a privacidade sem interromper seu fluxo de trabalho, incluem Ghostery e Do Not Track Plus, que impedem que sites transmitam informações sobre você e sua visita a empresas de rastreamento. Esses complementos também identificam as empresas que foram impedidas de receber seus dados (uma rede social, cinco agências de publicidade e seis corretoras de dados numa recente visita ao CNN.com).

"Empresas como o Google estão criando enormes bancos de dados com suas informações pessoais", disse Paul Hill, consultor da SystemExperts, empresa de segurança da rede em Sudbury, Massachusetts. "Elas podem ter as melhores intenções hoje, mas quem sabe como serão daqui a 20 anos? Então, será tarde demais para voltar atrás."

The New York Times