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quarta-feira, 23 de maio de 2012

Facebook diante de duas lógicas e um futuro incerto


  A rede social mais valorizada da internet terá agora que enfrentar um difícil dilema: tentar conciliar duas lógicas antagônicas, a dos usuários e a dos investidores. Trata-se de uma tarefa quase impossível, uma vez que os interesses dos usuários divergem frontalmente, em alguns pontos, em relação aos dos compradores do megaleilão de ações registrado na sexta-feira (18/5).

Os quase 900 milhões de usuários (número dado pelo próprio Facebook) fizeram a grandeza da corporação fundada em 2004 pelo adolescente Mark  Zukerberg, no seu quarto no dormitório de alunos da Universidade Harvard, nos Estados Unidos.  Eles trocaram sua intimidade individual pelo acesso a uma rede social na internet. Para os usuários, a palavra-chave era serviços gratuitos e eficientes.

Já as centenas de compradores de ações do Facebook querem é rentabilidade para os papeis adquiridos, o que significa que a empresa deve gerar lucros crescentes para que o investimento tenha valido a pena. Agora, a palavra-chave desse tipo de simpatizante do Facebook passa a ser lucro, e não mais serviços.

A empresa não deve cobrar pelos serviços que já oferece porque isso equivaleria a uma bofetada na cara de seus milhões de usuários atuais. Logo, a sua principal fonte de lucros deve ser mesmo o faturamento publicitário, um terreno que ainda é muito movediço na internet.  Normalmente os internautas torcem o nariz para sites com muita publicidade, sob a alegação de que anúncios criam obstáculos à exploração de páginas virtuais.

A opção da empresa de Zuckerberg é complexa porque se ela beneficiar os investidores pensando em lucro, é grande o risco de uma migração de usuários para outras redes sociais menos comerciais.  Um êxodo de internautas é sempre uma incógnita porque tanto pode ser um fenômeno passageiro como pode ser incontrolável, como aconteceu com o MySpace, criado em 2003 e que inaugurou a moda das redes sociais virtuais.

As duas redes surgiram como empreendimentos não comerciais e sem preocupação com lucro. A MySpace se tornou um caso de sucesso porque permitia que estudantes norte-americanos trocassem músicas sem pagar direitos autorais. O Facebook surgiu para trocar fotografias indiscretas, também entre estudantes.  A decadência do MySpace começou em 2005, depois de ser vendida por pouco mais de meio bilhão de dólares para o conglomerado News Corp. do milionário Rupert Murdoch, que em 2011 livrou-se da empresa por ridículos 35 milhões de dólares.

A decisão de ofertar ações na bolsa eletrônica NASDAQ parece indicar que o Facebook está mesmo interessada num namoro com gente que tem dinheiro e quer usá-lo para engordar a conta bancária. Caso esta tendência se comprove,  a empresa corre o risco de perder boa parte de sua base de simpatizantes, principalmente daqueles que  fazem o gênero mais adolescente pouco comprometido com regras e obrigações.

O caso Facebook é visto como um divisor de águas na internet também no tocante à estrutura da rede mundial de computadores. Além da questão da opção entre usuários e investidores,  Zuckerberg,  hoje com 28 anos, estaria interessado em  transformar a sua empresa numa espécie de núcleo aglutinador de uma internet privatizada, rompendo com a tradição de ausência de um controle centralizado existente desde os primórdios da rede e até hoje o seu grande apanágio.

Este objetivo tem a simpatia por quase todas as grandes empresas virtuais e não virtuais que não veem com bons olhos a heterarquia[1] vigente na internet porque ela funciona como elemento perturbador da hierarquia, verticalização e controle, característicos do sistema analógico.

Como vocês podem ver,  o leilão de ações do Facebook na NASDAQ é muito mais do que uma grande festança financeira.  O foguetório na bolsa eletrônica de Nova York não consegue esconder as grandes questões associadas à transformação da maior rede social do planeta num negócio controlado por algumas centenas de acionistas.


[1] Heterarquia, sistema onde não há um controle centralizado vertical, mas predomina uma ordem consensual. É diferente da anarquia, ausência de centralização e de ordem, e da hierarquia, ordem centralizada e verticalizada..


Por Carlos Castilho

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