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quinta-feira, 1 de abril de 2010

DISCURSOS DE SERRA E DILMA DIZEM O QUE É CADA UM


Parte da imprensa se esforça para ver nos discursos do tucano José Serra e da petista Dilma Rousseff o que seriam “estratégias” de campanha. Divirjo um tanto. Vejo menos “estratégia” do que exposição da condição de cada um. Publiquei a íntegra de ambos, destacando trechos das duas falas. Eliminei da homepage as referências fartas de ambos às obras, para tentar me fixar, vamos dizer assim, no espírito das falas. E o que elas revelam?
Não faço juízo de valor (sei que muitos não vão acreditar nisso, mas não dou a menor bola), mas constatação. O discurso do candidato tucano é o de alguém autônomo, que deve a sua candidatura à sua própria biografia. O discurso de Dilma é o de uma subordinada. Ao destacar num post que ela chamou Lula de “senhor” 28 vezes, não me apegava a um detalhe, a uma firula, mas a uma evidência: ele existe; ela ainda não.
E a força da candidatura da petista, o que é reforçado por analistas e pesquiseiros, está, curiosamente, em não existir; a força de sua candidatura está em prometer o terceiro mandato de Lula. Ela não é autônoma, não quer ser autônoma e não quer parecer autônoma. A única aposta que pode levar Dilma à Presidência da República é a da brutal transferência de votos de Lula para ela. É duvidoso se tal transferência já aconteceu. Acho que não. Parece-me que, até agora, nem o tradicional terço de eleitores petistas transferiu sua confiança para a candidata. No Datafolha, ela apareceu com 27% dos votos.
Essa transferência patina num discurso meio escorregadio dos especialistas que varia da torcida ao chute — e há, às vezes, o esforço bastante escancarado para tentar fazer com que as previsões se cumpram. Lula grita ao mundo: “Ela é uma grande gestora”. Mas os números indicam rigorosamente o contrário. Há mais de três anos a imprensa, generosamente, fala de um PAC que nunca existiu — o presidente lançou o PAC 2 na boca da urna e se irritou porque muitos se interessaram em saber, afinal, o que aconteceu com o… PAC 1! Esse era o trunfo dela. E não há trunfo nenhum!
Assim, resta o seu grande ativo eleitoral: Lula. Daí aquele discurso de contínuo — ou contínua — do lulismo. Serra tem a sua própria biografia de homem público. Pode falar em seu próprio nome. E pareceu ontem bastante seguro, à vontade mesmo, para o papel que vai desempenhar em breve: o de candidato. Ontem, até os petistas devem admitir, ele pareceu mais “presidencial” do que ela.
Dada a reação dos leitores petistas, é possível que o discurso do governador os tenha impressionado também. Muitos compareceram  este blog com coisas mais ou menos assim: “Não adianta falar bonito, o que conta é que o governo Serra é muito ruim…” Bem, petistas, vocês devem supor, acham ruim o governo, ao contrário da maioria dos paulistas. Mas notem: eles admitem que o tucano “falou bonito”. Foi um discurso, de fato, bastante convincente, próprio de quem pretende se colocar como líder, não como liderado.
Serra lembrou antigo lema de São Paulo, que ainda permanece no brasão da capital: “NON DUCOR, DUCO”: “Não sou conduzido, conduzo”. A rigor, pode dizer isso de sua trajetória . Dilma, com seus 28 “senhor”, revela o contrário: “NON DUCO, DUCOR”: “Não conduzo, sou conduzido(a)”.
Do Blog do Reinaldo Azevedo:

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