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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Ele pode, você não

Ele sai com amigos, chega tarde e você? Nem pensar! As regras são desiguais, o que fazer?
Ele sai toda sexta-feira para um chope com os amigos. Você não pode fazer o mesmo ou dá a maior briga. Ele pode ir à despedida de solteiro do colega. Você, nem pensar! Ele desliga o celular e diz que acabou a bateria, mas se é a bateria do seu que termina, ah, com certeza está aprontando alguma. É claro que você não gosta dessa situação, só por amor acaba aceitando. O que fazer?


Estamos falando do clássico "homem pode, mulher não", comum em muitos relacionamentos, como o da  Suh, que namora um corintiano fanático. "Quando ele vai aos jogos eu não posso nem ir a um barzinho com minhas amigas porque ele fala um monte. Diz que é diferente barzinho de estádio", conta. Para Suh seria uma forma de ela se divertir também. "Acabo ficando em casa para evitar brigas enquanto ele está se divertindo. Isso me incomoda e me sufoca", diz. Ela ama muito o corintiano, mas não sabe se vai suportar a situação. "Se eu casar com ele vai ser pior", antecipa.


Machismo e ciúme
Mariana tem um filho pequeno com o namorado, que é ciumento e possessivo. "Tanto é que, quando a gente decidiu ficar junto, ele exigiu que eu me afastasse de todos os meus amigos dos tempos do colégio. Apaixonada, fiz o que mandou e nunca mais falei com ninguém", conta. A história não para por aí: "Ele saía à noite, chegava bêbado em casa e nunca me convidava pra ir. Outra vez, ele foi num futebol da empresa que trabalhava e disse que era só para homens. Quando liguei, ouvi várias vozes de mulheres e foi horrível", descreve.

Mari achou que o comportamento do namorado poderia melhorar, mas não foi bem assim. "Tenho pensado muito em terminar, pois se não mudou até agora dificilmente vai mudar. Imagina a gente casado: não poderei sair sem ele, nem falar com amigos e amigas, não poderei fazer nada, só viver pra ele, única e exclusivamente, é isso que ele quer", diz. Mari enumera ainda o que ela gostaria de fazer e o namorado proíbe: "Eu amo canto, mas ele não me deixa fazer aulas. Amo dança de salão, ele não permite. Se digo que vou a um congresso, a um aniversário de amiga, a uma palestra etc, ele não deixa. Eu vivo e não estou vivendo, essa é a realidade", desabafa.


 Inara Virginiana sabe muito bem o que é isso. "Meu marido pode sair e jogar pôquer com os amigos três a quatro vezes na semana, e eu tenho que ficar em casa cuidando dos nossos dois filhos", conta ela, que se sente sufocada. "Ele fica controlando para onde vou, que horas volto. Não me deixa fazer nada sozinha", diz ela. O marido é ciumento e, às vezes, perde o controle. "Ele é muito grosso e mal-educado. Por qualquer coisa começa a gritar. Se não fazemos sexo quando ele quer, começa a bater porta, não conversa, não se expressa. Se eu tento falar, me ignora", reclama Inara, sem saber o que fazer para melhorar o clima, preocupada com o bem estar dos filhos.


Relação de poder

Segundo a psicóloga Sabrina Billo, quando falamos de um relacionamento em que duas pessoas se uniram por amor e afinidades, o ideal é que as regras entre os dois indivíduos sejam iguais. "Qualquer relação diferente disso é uma relação de poder, que acontece de diversas formas. A mais comum entre os casais é a de gênero do homem sobre a mulher, conhecida como 'machismo'", explica ela, afirmando que, se ele pode sair com os amigos, mas ela não, ou se a bateria do celular dele podeacabar, mas a dela nunca, isso é machismo.


Sabrina lembra que a razão alegada por homens e mulheres para tal comportamento é o ciúme. É isso mesmo? "No pensamento machista, várias vezes aparece a preocupação com 'o que os outros vão dizer'. Às vezes, ele nem sente ciúmes dela mas se preocupa com ‘o que o fulano do trabalho vai dizer se vir minha mulher dando sopa por aí?'", explica Sabrina, salientando que muitas vezes a opinião e o julgamento dos outros tem peso maior, mas a mulher aceita melhor e fica até lisonjeada se ele alegar ciúmes.

Marcas profundas

Sobre os depoimentos, em que o machismo acaba se revelando em brigas e intolerância, a psicóloga afirma que existe a agressão física e a psicológica, que pode incluir agressões verbais. "Apesar das marcas psicológicas não serem visíveis, são mais profundas no indivíduo. Certamente 'compraremos um pacote' em qualquer relacionamento, todos temos qualidades e defeitos. Há muitas mulheres tão machistas quanto os homens", afirma.


Sabrina lembra que o homem machista possivelmente foi criado por uma mulher dizia para o menino: "Homem não chora", "tu tens que ser homenzinho". E para a menina: "Teu irmão pode namorar várias, ele é homem, tu não pode" e por aí vai. É uma questão cultural. Neste quesito, a mudança de comportamento e pensamento começa com uma mudança na forma da criação dos filhos, com igualdades entre os sexos desde pequeninos. Isso pode levar gerações. Mas com certeza, começa hoje.

Já com pessoas adultas, a mudança se dá a partir de muita conversa. Se o seu homem é machista e os direitos e deveres são desiguais entre vocês, a psicóloga avisa que é possível mudar, sim. Só que, para isso, ele tem que querer. "Todo comportamento pode mudar, mesmo uma característica tão arraigada e exercida há muito tempo. Basta a pessoa querer. E aí são outros 500", finaliza.

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