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sábado, 29 de janeiro de 2011

Medo de dirigir

O que fazer quando dirigir é motivo de pânico?



O trânsito das grandes cidades assusta: engarrafamentos, enormes filas de ônibus, motoristas sem educação que transformam o asfalto, muitas vezes, em misto de hospício e terra sem lei. Situações que levam muita gente, por insegurança, trauma ou frustração, a desistir de portar a carteira de motorista.
Muita gente com fobia de direção chega a ser aprovada no teste, após passar pela autoescola. Mas a habilitação continua ali, guardada a sete chaves na gaveta. "Queria muito dirigir quando era novinha. Tirei a carteira cedo e acabei não pegando tanto o carro. Tinha só um automóvel na minha casa, o que dificultava a frequência", diz Ana Elisa Machado, há 10 anos sem dirigir e sem intimidade com o volante. "Acabei me acomodando. Não renovei a habilitação e acho cada vez mais improvável eu voltar. Fiquei insegura", assume.


A psicóloga Claudia Ballestero Gracindo, especializada em terapia cognitiva e comportamental pela USP, afirma que a confusão, imprevisibilidade e a velocidade costumam assustar as motoristas. Ela atende mulheres com medo de dirigir só que, diferentemente da maioria das sessões de análise, realizadas dentro de um consultório, Claudia acompanha suas pacientes sobre quatro rodas - dentro do carro. Ela faz parte da equipe da Clínica Escola Cecília Bellina, especializada em traumas, medos e insegurança no trânsito.


A clínica hoje possui filiais espalhadas por São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Tudo começou quando a psicóloga Cecília Bellina percebeu a recorrência do problema entre suas amigas. A primeira filial, aberta em São Paulo, comprovou a suspeita: o medo de dirigir, em mulheres, era muito comum. “Cerca de 90% da nossa clientela é feminina. É uma questão cultural. Quando pequenos, os meninos ganham carrinhos, e as meninas, bonecas. Enquanto eles são incentivados desde cedo a dirigir, sentando no colo do pai, elas estão sempre no banco de trás, protegidas. Se elas não têm interesse é porque nunca foram estimuladas”, compara a psicóloga Claudia Gracindo.


Longe de serem barbeiras, as mulheres que procuram a clínica têm um perfil bem definido. “São mulheres perfeccionistas. Não gostam de ser observadas, criticadas ou de errar. O problema é que o trânsito gera situações que fogem ao controle pessoal, existem outros motoristas ao redor. Elas deixam o carro de lado para não terem de se submeter a isso. O que fazemos é levar essas mulheres a entender que a direção, como qualquer outra habilidade motora, só melhora se for praticada. Quanto mais você treina, melhor você dirige. Mas elas querem começar dirigindo bem. São muito críticas quanto ao próprio desempenho”, explica Claudia.


Ajuda além da técnica

Da primeira aula às ruas passaram-se cinco meses de treino e, principalmente, análise. Isso mesmo! A clínica trabalha o medo em sessões de terapia de grupo. “Desde o primeiro dia elas fazem paralelamente às aulas de direção, terapia de grupo. É lá que elas vão conseguir desenvolver segurança para dirigir e aprender a controlar a ansiedade”, comenta Claudia Gracindo.


Realizado em etapas, o treino trabalha a perseverança. “Primeiro, elas aprendem a manipular o carro. Tiramos todas as dúvidas que se possa ter sobre o veículo, o que, em geral, passa despercebido nas auto-escolas. Compreender o funcionamento do automóvel dá segurança. Durante esta primeira fase elas dirigem em locais de pouco movimento, até ganhar confiança. A segunda etapa é o que chamamos de enfrentamento. Como para lidar com o medo é preciso enfrentá-lo, fazemos com que elas encarem as situações que mais lhes apavorem. Tem medo de caminhão? Então vamos procurar um e dirigir do lado dele. Já na terceira fase, passamos para o carro da cliente. Nesse momento final, ela ainda dirige acompanhada de uma de nossas psicólogas”, conta Claudia.


A partir daí, a motorista passa a ser monitorada à distância. “A maior parte das nossas alunas vai até o final e continua dirigindo. As poucas, cerca de 25%, que desistem no meio, geralmente saem por problemas financeiros. Mas todo mundo é capaz de aprender. O que varia é o tempo de tratamento, que vai de acordo com o conhecimento técnico e o medo. Há casos em que a aluna sua frio, treme, e não consegue dirigir de jeito nenhum. Em outros, o medo é mais fácil de ser superado”, diz.


Autoajuda

Como toda fobia, existem estudos de casos e métodos que tentam ajudar a superar o medo. A literatura de autoajuda procura analisar e trabalhar as questões que levam a pessoa a ter aversão ao volante, como o livro “Vença o medo de dirigir” (ed. Gente), de Neuza Corassa. Entrar em contato com a insegurança e suas causas pode ser o primeiro passo para solucionar o problema. O segundo é em direção ao carro.


Algumas dicas para superar o medo:


Entender a parte mecânica ajuda a dar segurança. Se tiver dúvidas, pergunte.


• Começar dirigindo em locais com pouco movimento de carros e pedestres.


• O carro morreu e o motorista de trás já começou a buzinar? Mantenha a calma e dê a partida novamente. Sempre vai existir gente estressada no trânsito.


• No início evite dirigir com música ou conversando com quem estiver ao seu lado. Concentre-se no trânsito.


• Aprenda a escutar os barulhos do carro. “Ele pede para trocar a marcha, para reduzir. São sinais importantes”, diz Claudia Gracindo.


• Quando tiver mais firmeza no volante grave duas ou três músicas de sua preferência, repetidamente, até esgotar o espaço do CD. “Escolha as que tiverem letra em português, para acompanhar com facilidade”, sugere a psicóloga Claudia Gracindo. Gostando da música, você vai acabar cantando. “Ajuda a controlar a ansiedade e não distrai tanto quanto o rádio”, explica a psicóloga.

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