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quinta-feira, 26 de maio de 2011

Profissionais relatam rotina de ameaças e agressões

“Ele pegou a ordem judicial da minha mão, rasgou, pegou o revólver, pôs na minha cabeça e disse ‘eu vou contar até dez, se você ainda estiver [aqui], eu vou descarregar o revólver todinho na sua cabeça’”, relata a oficial de Justiça Monica Reis Valverde. Há 30 anos, ela tem uma rotina de ameaças e agressões, que, em menor ou maior grau, também é a de outros profissionais que lidam com o público em situações delicadas, como atendentes de call center e guardas de trânsito.

Para a oficial Monica, de São Bernardo do Campo (SP), poucos entendem sua função, para a qual, segundo ela, não há treinamento. “A profissão é conhecida para o público em geral como entregador de cartas, um carteiro. Na realidade, [o oficial] é uma autoridade para cumprir ordens do juiz, como apreender uma criança, apreender um veículo, fazer um despejo, decretar uma falência, etc”. No dia em foi ameaçada, ela saiu do lugar onde estava o homem armado, mas avisou a polícia e ele foi preso logo em flagrante depois. “Ser oficial é pra quem realmente não tenha receio, não tenha medo e esteja disposto a enfrentar, porque a barra é pesada”, diz.

Aquele não foi o único momento de violência: Monica, de 66 anos, conta que já foi jogada de uma escada e teve a mão furada por uma caneta. Ela relata outras situações vividas por colegas: “Oficial Rosa passou horas trancada dentro do porta-malas do carro, dentro de uma favela. Oficial Wilton, atiraram nele e por um triz não arrebentaram o pé dele. Oficial Luiz Claudio, foi arrastado num carro, [...] o oficial estava próximo da porta, [...] e no fechar a porta, prendeu a roupa do oficial e ele foi arrastado. Quer mais? Nós vamos ficar aqui anos conversando.”

Do outro lado da linha
Adriane de Amorim Pimentel, de São Paulo, também lida diariamente com ofensas e xingamentos, só que pelo telefone. A atendente de telemarketing começou no setor de cancelamento de seguros "Ele [o cliente] já entrava em linha atritado, nervoso", relata. "O cliente falava ‘Adriane, cancela’ e falava palavrão. O que eu fazia? Eu respirava fundo, pensava que aquilo não era comigo e aguardava o cliente falar.”

A empresa onde ela trabalha há seis anos faz serviços como vendas e atendimento ao cliente para diversas companhias. Os funcionários passam por um treinamento de um mês. “As três dicas básicas são: maturidade, paciência e honestidade”, resume a a supervisora Andrea Borba. Segundo ela, as mulheres se dão melhor na profissão do que os homens.

Adriane diz que 'vence' os clientes nervosos com paciência. “Uma senhora entrou em linha muito nervosa, dizendo ‘Você é a última tentativa, se não conseguir entender, vou acionar a Justiça, eu sou advogada’. Ela falou que a gente era tudo um bando de ladrão e não me deixava explicar", lembra. Na quarta tentativa, a cliente concordou em ouvir as explicações da atendente sobre o caso. "No final, ela agradeceu e disse que eu fui a única a ter paciência com ela. Mas eu vou confessar que depois que acabou aquela ligação eu fui beber uma água porque que tava...”, conta Adriane.

Palavrões e brincadeiras
O árbitro de futebol Guilherme Ceretta, também de São Paulo, trabalha há quase 11 anos na área. Ele diz que já se acostumou com os palavrões durante as partidas, mas reclama quando as críticas vão para o lado pessoal. "O arbitro errou, acertou, marcou pênaltis inexistentes ou duvidosos, isso é uma coisa. Agora, ‘o Ceretta é um ladrão, um safado’, existe uma conotação pessoal que não tem nada a ver.”

Quem também recebe xingamentos é Marco Aurélio Silva de Souza, guarda municipal do Rio de Janeiro, que trabalha há 10 anos específicamente no trânsito, inclusive aplicando multas. “Eles xingam, falam que a gente não tem competência, mas a gente tem que fazer nosso serviço. Tem casos em que as pessoas partem pra cima, querem agredir, nós devemos agir de maneira razoável e fazer o registro. Se passar dos limites, levo pra delegacia.”

Souza, que passou por um curso de formação, reclama que a imagem do guarda de trânsito para as pessoas é a de um inimigo.“Nós não somos inimigos, somos amigos. É preciso conhecer o guarda, saber pra que ele serve, ele só executa as normas de trânsito, as pessoas precisam entender isso porque o carro é uma arma e pode tirar vidas.”

G1

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