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quinta-feira, 19 de abril de 2012

Sorrisos e rabiscos nas redes sociais


  O termo meme foi cunhado pelo zoólogo Richard Dawkins, em seu best-seller de 1976, The Selfish Gene (O Gene Egoísta). O conceito usado pelo autor para designar “uma unidade de evolução cultural” foi integrado à internet para referir-se a uma série de pessoas, vídeos, imagens, expressões, canções, fatos e outros materiais que se popularizaram na rede. Um meme de Internet pode perecer com as mesmas características originais ou evoluir, ao longo do tempo, suscitando comentários, imitações e paródias. Camaleonicamente, se adapta às circunstâncias e objetivos de sua veiculação.

A linguagem utilizada na internet catapulta identidades sociais ou de grupos. Observamos, nas redes sociais, disseminação de gírias gays, gostos musicais, regionalismos, ou linguajares cheios de inadequações gramaticais escritas propositalmente. São ironias de cunho político-social. Também são reproduzidos conteúdos advindos das próprias mídias e de quem a faz. Bordões de personagens da programação televisiva, termos publicitários, expressões de artistas ou de subcelebridades se alastram rapidamente.

Regados a humor, os memes são lembrados pelos mais variados nichos de internautas. Servem à demarcação do território lingüístico dos grupos, ressignificam a comunicação, ampliam a capacidade semântica de palavras da língua portuguesa e, ademais, corroboram com uma verdadeira antropofagia cultural, processo em que termos e costumes de outros países se popularizam entre os filhos da nação canarinho. O verbo trolar veio da palavra do “trolling”, que, em inglês, é o ato de desestabilizar uma discussão ou provocar pessoas. Originalmente, restringia-se a fóruns e conversas na internet, mas atualmente é usado para ações inusitadas que provocam caos em algum contexto real, isso é, fora do ambiente virtual também.

Os memes são publicados com diversas finalidades. Publicitários, profissionais da área de marketing e artistas, comumente, os lançam com objetivo de promover algo. Deixando de lado a finalidade comercial, coloco sob holofotes a consequência mais singela e natural da propagação destes produtos criativos na rede: o humor inerente a eles.

As caricaturas do Facebook


Um tipo especial de meme invadiu as timelines do Facebook, rede social em voga atualmente. Produzidas de maneira pouco complexa, várias caricaturas de expressões faciais colocadas em tirinhas são utilizadas para substituir orações inteiras e traduzir sensações humanas. É interessante observarmos quais elementos, especificamente, são responsáveis por provocar o efeito cômico ao qual nos referimos.

O primeiro fato gerador de humor é o retrato que os memes fazem de situações do dia-a-dia, ora simples, ora inusitadas. Essa característica já se sobressaltava nas comunidades do Orkut, que reuniam milhões de usuários. “Pensei que era sorvete, mas era feijão” era o título de uma delas. A comunidade coloca em voga o costume brasileiríssimo de cozinhar grande quantidade de feijão e separá-la em porções menores para congelar. Para isso, as donas de casa costumam aproveitar as vasilhas de sorvete tupperware.

No Facebook, destaco os memes que representam um medo típico da infância. Na tirinha, uma pessoa apaga a luz do quarto e sai correndo para a cama. No último quadrinho, a caretinha demonstra o alívio sentido pela personagem, ao concluir a tarefa sem ser pega pelo “monstro” que mora no quarto. Em outra variação, o personagem puxa, rapidamente, o pé para debaixo da coberta, após ouvir um estalo no meio da noite. Em linguagem verbal, deixa claro “Não foi desta vez, monstro”!

O humor é sensível, a situação apresentada é cultural, reforça uma identidade. Revela-se aí um comportamento que é da intimidade do lar e da pessoa, mas que é mais comum que se pensava. Alimentar no imaginário infantil o medo do monstro do quarto não se restringe a alguma classificação social.
Por outro lado, o humor também deve à precariedade dos desenhos das carinhas. A pioneira, a troll face, foi criada no Paint, editor de imagem básico. Acredito que, se fosse um trabalho bem elaborado, os internautas que não dominam ferramentas e softwares de edição não teriam interesse em recriar tantas paródias. Os rabiscos, os homens feitos de palitinhos e as expressões fixas usadas para cada situação específica (como a troll face ou a LOL- (Laugh Out Loud, que em português significa “rindo muito alto”) incentivam a reprodução. Além do mais, a imperfeição, o defeito escancarado também são objetos clássicos do humor.

Êêê, Macarena! Aaaai!


É fácil reconhecer e dançar a música “Macarena”. Difícil mesmo é cantar a letra corretamente. Faço parte da trupe que enrola durante todo o verso e só canta com clareza o enfático “Êêê, macarena. Aaaai!”. Uma das tirinhas que mais me chamaram atenção foi, justamente, sobre a famosa música. Da fala enrolada do personagem, só se entende os finais de frases. As partes imagética e textual se unem para dar sentido e produzir a comicidade do meme. As expressões faciais conhecidas ganham membros em palitinho, que se enrolam daqui e ali coreografando a Macarena.

Outro aspecto da graça dos memes é a humanização de animais e objetos. Em uma tirinha, um pitbull pergunta pela enfermeira que teria matado o yorkshire, caso que foi amplamente divulgado pela mídia em 2010. O humorista se aproveitou de um contexto realista, de uma notícia, para fazer sua piada. Sem entrar no mérito da piada e julgar sua fé, fica explícita mais uma fonte de matéria-prima da qual se aproveitam os internautas. Moralismos e clichês, opiniões travadas e mal embasadas também são projetadas assim. Faz parte, afinal, da democracia inerente às redes sociais.

Humor, rede e leitor


Os memes são criados para representar o que o humorista pretender, sem critérios temáticos. Por esse motivo, é inviável precisar suas origens e abrangências. Existem sites, no entanto, que tentam acompanhá-los. É o caso do Know Your Meme.

As redes sociais tendem a ser mantidas pelo humor. Prova disso é a quantidade de perfis que se dedicam a postar piadas. Muitas vezes, não levam o nome do criador, mas sim um codinome. No Twitter, várias hashtags (termos que explicam o contexto do comentário postado) foram cunhadas pelo @MussumAlive, @Ocriador, @NairBelo e @RealMorte. São personagens fictícios (fakes), que homenageiam artistas que já morre-ram ou entidades do imaginário popular e religioso. Já no Facebook, “Enquanto isso em Goiás”, “Humor Risos”, “Trollglodita” e Humor no Face” são bastante reproduzidos.

A linguagem da rede é lúdica e transgressora desde as primeiras comunidades. O humor ácido era representado pelos emoticons e práticas culturais como próprio trolling. Em virtude da Web 2.0., deixou de ser característica vinculada aos nerds e se popularizou.

Assim como outras peças humorísticas, é necessário que o leitor esteja inserido nos contextos das piadas para compreendê-las. Alguns conhecimentos específicos são fundamentais para a interpretação dos memes. Eles versam sobre atualidades, músicas, filmes, ditados populares e até mesmo sobre as experiências dos internautas na rede.

O ambiente da internet e os meios de comunicação são promissores para que a arte se remodele. Os memes são arte, expressam culturas, possuem características próprias que podem ser elencadas. Da naturalidade com que se solta uma expressão engra-çada ou polêmica à montagem bem feita em software profissional de edição, a arte mimetiza a vida e dá cor à imaginação. Em todos os âmbitos, depende da criatividade (de quem produz e de quem interpreta) para obter êxito e é válida, mesmo que absurda. Mesmo que transgrida as leis do nosso mundo real.


Por Mariane Rodrigues

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