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quinta-feira, 8 de julho de 2010

O mundo é uma bola e Eu sou quadrado

José Adalberto Ribeiro*joseadalbertoribeiro@yahoo.com.br

O grande Dunga está sendo esculachado. Xingado. Humilhado.  Maltratado. Espezinhado. Espinafrado. 
Vilipendiado. Martirizado. Sacaneado. Caluniado. Injuriado. Injustiçado. Barbarizado. Ridicularizado. Crucificado. Cristianizado. Condenado. Apedrejado. Escorraçado. Rejeitado. Saiu machucado. Dunga quase foi capado pelo cartola Teixeira, um cara malvado!

Subitamente, não mais que subitamente, o mito Dunga se desmanchou no ar e a macacada do Brasil delirou, delirou.

A cartola de Teixeira permanece preservada, inquestionável e intocável. O cartolão é o dono da “jabulani” no Brasil. 

Até a sexta-feira, às 2 em ponto de la tarde, Dunga era o herói das confederações e das Américas. Eu mesmo, analfabeto de nascença em matéria de futebol, recebi milhões de e-mails glorificando Dunga por ter desafiado os poderes majestáticos da Rede Globo.      

A mão que afaga é a mesma que apedreja, ensinou o poeta Augusto dos Anjos e pecadores.

Dunga reinou como herói nacional desde os tempos que já lá vão de 2006, quando foi nomeado técnico da seleção em eleição indireta na CBF, até às 11 horas e 45 minutos de sexta-feira passada, dia 2 deste mês, no primeiro tempo do jogo contra a Holanda e depois do primeiro gol do Brasil. Do meio-dia até às 12 horas e 10 minutos, quando a Holanda a empatou a parada, ficou chorando na rampa. O reinado de Dunga desmoronou depois de 4 anos, Às 12 horas e 22 minutos do dia 2 de julho, na virada dos holandeses.

Mas, eu não sou cronista esportivo. Eu sou apenas um grilo pensante que gostaria de misturar um pouco de política com futebol e sociologia, ao menos uma sociologia de almanaque, pois meu livro de cabeceira da cama é o Almanaque Biotônico Fontoura e meu herói predileto é Jeca Tatu, o gênio da roça.   

Marx pisou na bola, segundo a minha sociologia de almanaque, ao ditar a lei do “tudo que é sólido se desmancha no éter”. O reinado do cartola Teixeira na CBF permanece sólido feito a pedra do reino. O reinado pernambucano de Carlos Alberto Oliveira também permanece firme feito as pontes construídas por Maurício de Nassau nesta cidade lendária de Recife. No futebol e no sindicalismo, os reinados são petrificados. Carlos Alberto é bom camarada, seja dito.

O futebol no Brasil dissemina a cultura da intolerância, da arrogância e da ignorância. Intolerância significa: só eu tenho o direito de vencer. Arrogância é negar os méritos dos adversários. Ignorância é nivelar pelo mais baixo nível. Também instiga os instintos primitivos e insufla a violência. 

A África do Sul construiu estádios suntuosos para a Copa. Depois, vão virar elefantes voadores. Com um custo de manutenção altíssimo, servirão apenas para jogos de pelada e crescer o capim no gramado. Nem metrô existe no País. Em guerra contra a Aids e a corrupção endêmica, coitado do continente africano e dos africanos. E sejam amaldiçoados os ditadores ladrões e assassinos.

As cervejarias e os vendedores de corneta ficaram muito tristes com a desclassificação do Brasil. Os caboclos mamadores tão nem aí.   

A Fifa manda em meio mundo, noves fora os países vacinados contra a coqueluche inflamatória do futebol.  O governador paulista Alberto Goldman fez finca-pé que não gostaria um tostão do dinheiro público para a Copa 2014. O prefeito Gilberto Kassab diz que sim, ora diz que não. E a Fifa rejeita o estádio do Morumbi e ameaça riscar  São Paulo do roteiro da Copa-2014.

A mídia já decretou que “o sonho do hexa” foi adiado para 2014. Falta combinar com os adversários e com os juízes da Fifa. É, quiçá!

Patriotismo o que é? É vestir uma camisa verde-amarela e sair por aí, tomando cerveja e soprando corneta.
Inventaram a lorota do futebol-arte. Então deve existir também o halterofilismo-arte, a vaquejada-arte, o jogo de porrinha-arte. Arte é espírito. Futebol é sebo nas canelas e jogo de cintura.    

Só pra contrariar, SPC, eu sou dissidente da ditadura futebolística, modéstia de lado. O mundo é uma bola e eu sou quadrado. Vivo sonhando com um círculo quadrado, graça a Zeus.   

*Jornalista

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