"Vou ser um vice discreto, viu? Não tenho vocação para carro alegórico." Será também o vice mais poderoso da história recente do Brasil.
Itamar Franco (vice de Collor), Marco Maciel (vice de FHC) e José Alencar (vice de Lula) eram do "bloco do eu sozinho", com nenhuma influência em seus partidos.
Temer uniu o PMDB num projeto de poder. E poderá tomar posse com o respaldo de um partido de cerca de cem parlamentares, vários governadores e prefeitos.
Nos últimos dias, ele visitou gabinetes poderosos do país. Almoçou e jantou com donos de alguns dos principais meios de comunicação. Esteve com os banqueiros Roberto Setubal e Joseph Safra, com empresários, desembargadores e juízes.
Ouviu num discurso que é "a garantia de que as prerrogativas dos advogados serão respeitadas, de que a liberdade de imprensa será ampla". "O PMDB é de centro, fiador da democracia", diz Temer.
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| Michel Temer, candidato a vice-presidente pelo PT |
Em todos os eventos, ele transmite a mensagem: Lula "pacificou os movimentos sociais e deu tranquilidade ao país". Dilma, diz, seguirá no mesmo caminho.
MUITA CALMA
"Jamais a imprensa pôde falar tão mal de um governo e de um presidente como nos últimos oito anos", diz ele. "E a Dilma já disse que controle, para ela, só o remoto, para mudar o canal da TV." Para os que reclamam da imprensa, pede moderação. "Quando falam pra mim sobre a imprensa, precisa fazer isso e aquilo, eu digo: minha gente, não precisa fazer nada. A Constituição garante [ao ofendido] direito de resposta e de indenização por danos morais e materiais."
Temer liderou o PMDB no governo de Fernando Henrique Cardoso, quando o partido apoiava o tucano, e presidiu a Câmara dos Deputados.
Na época, o então ministro das Comunicações, Sérgio Motta, queria debater uma nova Lei de Comunicação Eletrônica de Massa --que pretendia restringir o monopólio, regular e determinar novas regras de propriedade e programação para a radiodifusão (rádios e TVs).
O projeto foi engavetado depois da morte do ministro, em 1998. E virou tabu.
No governo do PT, o tema renasceu, de forma incipiente. O presidente Lula afirmou, recentemente, que a discussão sobre um novo marco regulatório de telecomunicações é "inexorável".
Questionado, Temer diz não ver problemas no debate. "Há uma discussão sobre a democratização da propriedade, da concessão dos meios de comunicação audiovisuais. E há outra sobre a liberdade de imprensa. Não se pode confundir os dois conceitos. E, data venia, quem confunde é a 'opinião publicada' [na mídia]."
Temer diz que o debate "não me parece que seja tão necessário", mas "não pode ser interditado. Falamos tanto em democracia, e às vezes as pessoas querem democracia só para uma das partes".
"Neste tema, é preciso ir com muita calma. É preciso fazer um diálogo do governo com os setores de comunicação. Não se pode criar um impasse. Podemos ter um desastre institucional." E não se pode "violar as concessões [de TV] já consolidadas, que são um ato jurídico perfeito".
A corrupção foi outro tema da campanha. "A corrupção no Brasil é endêmica. Sabe os santos do pau oco? [No Brasil Colônia] escondiam o ouro dentro deles para não pagarem impostos." Apesar dos escândalos no próprio PMDB, ele diz que a situação melhorou "sensivelmente".
MISS PAULÍNIA
Professor de direito constitucional com vários livros publicados, entrou na política pelas mãos do ex-governador Franco Montoro (PSDB-SP), de quem foi secretário de Segurança, cargo que ocupou também no governo do quercista Antonio Fleury Filho. Está no sexto mandato de deputado federal. Por 25 anos, combateu o PT. Em 2002, apoiou José Serra (PSDB), contra Lula, à Presidência. Em 2006, apoiou Geraldo Alckmin (PSDB-SP), novamente contra Lula.
E quando as diferenças históricas viraram amor? "Comecei a pensar: 'Poxa, esse presidente aí, o Lula, tá fazendo coisa boa'."
Nega que o PMDB, com seis ministérios com Lula, exija a metade de todos os cargos de um governo Dilma. "A coligação é baseada em propostas de governo."
Diz que lê seis livros por mês e faz poemas em guardanapos quando viaja de avião. "O outro sou eu assim/desarticulado, desajeitado."
Há oito anos, separado, pai de quatro filhos, conheceu a terceira mulher, Marcela. Tinha 62 anos. Ela, 20. O encontro foi em Paulínia (SP), onde ela concorrera a miss e ele fazia campanha.
"Voltei para SP pensando: 'Poxa, seu eu fosse jovem...'". Houve o reencontro, a paixão, o casamento. Em 2009, nasceu o filho, Michelzinho. Temer dedicou à mulher um de seus poemas preferidos: "Mar és o céu/por isso te chamaram/Marcela".


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