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domingo, 19 de junho de 2011

Briga de galo: a festa milenar que ainda resiste

EFE

Pinturas, ilustrações e outros documentos localizam os galos de briga na China há cerca de 2.500 anos. Também na antiga Roma, a dos circos e coliseus onde se sacrificavam outros animais e até humanos, se criava estas aves, assim como no Paquistão, na Índia e no Egito.

A Espanha as levou para a América Latina, onde se mantiveram apesar de grupos defensores dos animais buscarem sua extinção, ao considerar que são práticas anacrônicas que violam os direitos mais básicos da vítimas: "não serem maltratadas nem morrer por simples diversão dos humanos".

Quem as defende, sustenta que a morte de um galo de briga é "mais digna" que o sacrifício de milhares de frangos nas fazendas avícolas.

Na Espanha, só nas Ilhas Canárias e na Andaluzia são permitidas, assim como em poucas regiões dos Estados Unidos, e embora sejam proibidas, sua prática é clandestina nas Filipinas.

Em Porto Rico é considerado um esporte nacional e em algumas regiões do México são motivo de uma devoção quase religiosa, enquanto em Colômbia, Venezuela, Nicarágua, República Dominicana e Peru se distinguem pela criação de "galos finos" para as brigas.

A rinha de galos, um fervor latente

O fervor em relação a estas aves no Equador elevou para quase dois milhões o número de seguidores e para 1.500 o de criadores desta espécie milenar, da qual vivem direta ou indiretamente entre 60 mil e 100 mil famílias, segundo seus partidários.

O governo colocou em alerta todos os criadores de galo de briga equatorianos quando anunciou uma consulta popular que incluía a proposta de eliminar os espetáculos no qual animais são mortos por diversão.
No entanto, a Corte Constitucional modificou o texto, que agora proíbe os espetáculos que tenham como "finalidade" a morte do animal, o que afeta as touradas, mas não as brigas de galos, segundo o governo.
Nas brigas frequentemente as aves morrem, mas não é este o objetivo, segundo afirma Guillermo Lomas, criador e dono do "Palenque Revuelos", da localidade de Calderón, norte de Quito, que ressalta que os galos são criados para vencer, "não para morrer".

Para Lomas, a criação de galos e as brigas não são somente uma torcida, um esporte ou uma expressão cultural, mas "uma forma de vida, é o melhor da vida".

Os galos de briga têm "características genéticas" próprias para lutar em um espetáculo no qual o povo se diverte, mas também fica nervoso, impetuoso e até frenético, embora sem chegar a um estado de violência.

EFE

Devoção

Atrás de seu palanque, Lomas tem uma criação de mais de uma centena de aves, a grande maioria delas para a briga e muitas com ascendência "nobre", pois têm sangue espanhol, mexicano ou dominicano.
Abrigos especiais enchem o grande pátio, onde Lomas e sua família passam a maior parte de seu tempo no cuidado das aves, distribuídas por idades.

Desde pequenos, os galos fazem honra a sua raça e com quase cinco centímetros de altura já desafiam outros de sua mesma idade, embora haja alguns, os mais bravos, que desafiam os maiores, que os afugentam com suas asas.

No galinheiro, ficam os especiais, que estão próximos a ir para a arena, ao centro do palanque, para duelar com desconhecidos que chegam "de todo o país e do estrangeiro", segundo Lomas.

Ele lembra que quando começou em seu palanque venceu com um galo "verde-fava", um grande exemplar que, além da vitória, lhe deu sorte para continuar com a herança de seu pai e seu avô.

Seus filhos também seguiram a tradição e junto com suas esposas colaboram na organização da jornada de brigas no palanque, que começa às oito da noite e pode se estender até as seis ou sete da manhã.

O palanque abre suas portas

Um juiz vigia para que a briga transcorra sem contratempos, sem trapaças, enquanto os "carregadores" ou os próprios criadores encorajam suas aves para que devolvam na rinha com ferocidade todos os carinhos que receberam durante anos.

O palanque é um lugar fechado, uma pequena praça com um tablado, que conta com escadarias e áreas para analisar os galos, para seu descanso, sua pesagem e seu "calçado", onde lhes põem as esporas.
Filas de "galleros" colocam suas aves lado a lado, para averiguar qual é a adequada para uma dupla de briga. Se dois "galleros" concordam, suas aves irão para a briga, mas antes devem ser pesadas para descartar qualquer vantagem, depois são "calçadas" e finalmente vão para a briga.

Os "carregadores" são os homens de confiança dos "galleros", que os contratam para que façam a ave brigar.

Outro cargo de confiança é o dos "calçadores", pois colocar as esporas poderia definir uma briga, por isso que fazem seu trabalho com paciência e com método. Escolher a espora adequada para o galo é parte da "ciência desta profissão".

"É como quando se colocam as luvas nos pugilistas, mas mais que isso, se precisa saber em que disposição exata se coloca, pois uma pequena variação poderia ser prejudicial para o próprio galo", adverte uma "calçadeira", enquanto calcula o ângulo exato no qual deverá ir a espiga de metal para que a ave não se enrole em sua própria "arma".

"Na rinha, saber sobre galos e a sorte influi no resultado do combate, e os apostadores se esmeram para conhecer de onde provém a ave e se seu criador é reconhecido por apresentar vencedores, diz Lomas.
No entanto, esclarece que nenhum "gallero" pode prever se seu galo irá vencer, "pois houve vezes nas quais aves desconhecidas venceram famosas".

"Isso é o bonito deste jogo, porque todo 'gallero' cria seu animal para que vença, não para que perca", assegura uma das centenas de pessoas que vai ao "Palenque Revuelos".

EFE

Cabalas e lembranças apimentam a tradição "gallera"
A coragem das aves se percebe quando as plumas de seus pescoços se eriçam e seus bicos apontam para as cristas de seus oponentes. Os carregadores os soltam e é aí que começa uma espécie de dança entre dois galos que querem se matar.

Bicadas, piruetas, revoos e batidas de asas fazem parte de uma boa briga, embora também os trejeitos, gritos e gestos dos torcedores o sejam. A condição física da ave é importante, também o cuidado e preparação, embora nunca falte esse elemento que faz com que um galo saia vivo de difíceis batalhas: a sorte.

Por isso, os "galleros" têm suas cabalas e sabedorias próprias, embora de tanto ver brigas os torcedores também adotaram algumas delas. O uso de chapéu, a medalha de Nossa Senhora no bolso, uma pluma, a moeda da sorte e até a companheira são alguns dos amuletos.

As apostas são simples, de um dólar até 50 por briga no Equador, embora os números possam aumentar de forma exorbitante dependendo da fama das aves. "Dou vinte". "Vamos dez a oito"... "Vamos", e a aposta está pactuada, o vencedor receberá a quantidade oferecida e o perdedor terá, por lei "gallera", que pagar o estabelecido.

"Se alguém aposta um dólar terá que ter esse dólar no bolso e, embora não aconteça, se não pagar, então o tiro da rinha", relata Lomas. Ele também ri e nega categoricamente o rumor de que algumas vezes se apostam as companheiras. "Isso jamais, não é certo, jamais apostaram isso que o senhor diz... As esposas, jamais", afirma.

"Aqui se aposta dinheiro", repete com voz de riso, mas fica sério ao pronunciar a frase célebre de seu grêmio: "Palavra de 'gallero' é palavra de cavalheiro. A palavra de um 'gallero' vale mais que uma escritura pública".

Por Fernando Arroyo León
Da Efe

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