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sexta-feira, 24 de junho de 2011

Minoria magra também sofre com os apelidos e a balança

Apelidos pejorativos, vergonha do corpo e dietas malucas não são exclusividade de gordo. Mas drama de magro não comove ninguém, nem os médicos.

Magros também brigam com a balança. Sofrem para comprar roupa. Eles querem ter músculos. Elas, curvas. E ninguém dá bola para suas queixas.

A consultora financeira Flávia Fonseca, 35
A consultora financeira Flávia Fonseca, 35

É o que dá ser minoria, em plena cruzada global antiobesidade. "Atendo um magro a cada cem obesos", diz o endocrinologista Bruno Geloneze, da Unicamp.

Estima-se em menos de 5% os brasileiros "magros demais" -embora um ditado popular diga que "magreza e dinheiro nunca são demais".

Os magros da estimativa têm IMC (Índice de Massa Corporal) abaixo de 18,5 (calcula-se dividindo o peso em quilo pelo quadrado da altura em metro). Não significa que estejam doentes.

Mas há confusão entre magro e fraco. Por isso, receitas com ovo de pata, fortificantes e óleo de fígado de bacalhau recheiam a infância de magros "de ruindade" (leia-se predisposição genética).

Mesmo grandinha, aos 22 anos, a consultora financeira Flávia Fonseca -hoje com 35 e 54 quilos para 1,64 m de altura- entrou na fila da multimistura distribuída a carentes pela Pastoral da Criança. "Pensei que, se os bebês desnutridos ganhavam peso em pouco tempo, eu também ganharia." Ela pesava 49 quilos. Tomou a ração por seis meses. "Eu me pesava toda semana. Depois, desencanei."

Sua pior fase foi a adolescência. "Usava jeans 34. Ia para a praia de short, achava que não tinha bumbum. Minhas amigas, que tinham mais corpo, chamavam a atenção. Não era fácil achar namorado."

Hoje, a consultora se resolveu com a magreza. Em vez de seguir receitas para engordar, faz musculação. "Percebi que é mais importante ganhar massa magra. De uns anos para cá, agradeço esse metabolismo acelerado."

CALÇA DE CRIANÇA 

Juliano Rosa, 29, bancário, em seu apartamento, no RJ
Juliano Rosa, 29, bancário, em seu apartamento, no RJ

Com 55 quilos e 1,65 m, o bibliotecário Roberto Silveira, 45, precisa comprar calça feminina ou infantil. "Não sou raquítico, mas dá para ver as costelas no tórax. Queria ter outro corpo."

Ele diz que, com a idade, investiu em outros valores que não a imagem corporal. Mas já sofreu tentando ganhar peso. Chegou a tomar anabolizante por oito meses, receitado por endocrinologista. Ganhou só dois quilos e desistiu, com medo dos efeitos colaterais da droga.

No período da faculdade, com menos de 50 quilos, teve medo de emagrecer ainda mais, por causa da rotina agitada. Ia para a balada e perdia mais de um quilo por noite. "Tenho tireoide, fígado, tudo perfeito. É metabolismo mesmo." Passou a comer compulsivamente, mesmo sem fome, e não engordava. "Pegava bife que tinha sobrado do jantar e comia no café da manhã."

Comer mais para engordar é uma "má ideia", avisa o endocrinologista Geloneze. Segundo ele, o magro pode ganhar barriga e ter problemas com o excesso de gordura abdominal. "Não é raro encontrar pessoas que queiram engordar, mas é raro encontrar quem precise."

O pediatra e nutrólogo Fábio Ancona Lopez endossa: "Não tem por que interferir na dieta de quem está saudável".

SEM CAMISA

O problema -como sempre- é quando a vontade de ter um corpo diferente passa a afetar muito a vida da pessoa.

No caso do bancário Juliano Rosa, 29, afeta um pouco, mas ele está acostumado, segue o ritual desde menino. "Nunca saio com uma só camiseta. Não uso jeans sem vestir outra calça mais apertada por baixo". Ele mede 1,75 m e pesa 60 quilos.

Para ir à academia, calça três pares de meias, um sobre o outro. "Se pudesse, trocava de pernas", diz.

"Magrão" e "Tripa" foram alguns apelidos que marcaram a adolescência de Evandro Mangueira, 1,80 m e 63 quilos. Funcionário público, ele diz que, mais jovem, deixava de ir à praia e até de jogar futebol -se caísse no time dos sem camisa.

Hoje, aos 32, diz ele que não se priva mais de nada. "Não dá para ter vergonha com essa idade." Mas ainda aguenta comentários chatinhos, não desprovidos de certa inveja. "Quando vou pegar uma sobremesa, alguém logo diz: 'Você pode'".

Folha.com

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