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domingo, 9 de maio de 2010

Cheque especial é crédito que mais cresce; veja dicas para sair da dívida


O uso do cheque especial no Brasil deu um salto no primeiro trimestre deste ano, segundo dados do Banco Central. De janeiro a março deste ano, foi a linha de crédito que mais cresceu no país na comparação com o mesmo período do ano passado: as operações subiram 11,5% - contra alta de 8% do financiamento imobiliário e 8,3% do financiamento de veículos.
Na avaliação de economistas e advogados consultados pelo G1, o uso excessivo do cheque especial é preocupante porque se trata de um dos tipos de crédito com juro mais elevado.
Para ajudar quem está com dificuldade em sair do cheque especial, o G1 traz alguns conselhos de especialistas no assunto. Nos estágios iniciais da "dependência" do limite, uma negociação com o banco é a saída mais indicada. Quando a situação se agrava, a solução pode ser cancelar o serviço e obter um crédito com juro mais baixo, como o empréstimo consignado, para que não vire uma "bola de neve". Confira dicas abaixo.
Quando usar? Por ser um crédito com juro alto, é indicado apenas em casos de emergência e quando o consumidor puder cobrir o valor até no máximo o vencimento do limite.
Vantagens: É uma das maneiras mais fáceis de obter crédito. Geralmente já está na conta bancária
Desvantagens: Tem o terceiro maior juro entre os produtos de crédito. Nos últimos 12 meses encerrados em março, os juros foram de 135%.
Cuidados: Em caso de bancos que não cobram por dias o uso do cheque especial, é preciso ter atenção. Eles podem não cobrar no 10 primeiros dias por exemplo, mas apartir do 11º dia, são cobrados os 11 dias.
O que fazer se... 
Você usou uma parte do limite: Quem acabar de entrar no cheque especial, deve tentar de imediato cobrir o limite. Se não conseguir no primeiro mês, pode cancelar o limite e renegociar com taxa melhor. Ou pegar um empréstimo mais barato, como o consignado, para cobrir.


Você não consegue mais sair do limite: Aqueles que já estão endividados devem partir para a negociação com o banco, por meio de parcelamento ou liquidação total do limite. Para isso, pode obter um crédito mais barato. O ideal é liquidar o máximo que puder do valor e financiar o restante no menor número de parcelas possíveis.


Você não consegue sair do limite e já está com o nome sujo: Quem tem nome sujo e não pode contrair empréstimo para sanar a dívida, precisa mesmo negociar. Caso não considere a negociação justa, pode procurar órgãos de proteção ao consumidor ou o tribunal de pequenas causas para intermediarem.
A cozinheira Marizete Galvina, de 49 anos, é uma entre as milhares de pessoas que enfrentam problemas com o cheque especial. Tudo começou em 2006, quando o marido teve problemas de saúde. Ela precisava comprar um aparelho de medir pressão e outro para diabetes, mas não tinha dinheiro. Fez uma compra de R$ 400 e parcelou em 12 vezes de R$ 80.

Quando faltavam três parcelas, o marido morreu. Aí começaram as dificuldades financeiras. Não pagou mais o financiamento e precisou utilizar cerca de R$ 400 no rotativo do cartão de crédito. Durante um ano e meio, pagou apenas o mínimo. Quando viu que a dívida nunca se reduzia, parou de pagar. O banco então debitou o valor do cheque especial e a conta passou a ficar negativa mensalmente.

A dívida, calculada por ela em R$ 1 mil, está atualmente em R$ 6 mil, segundo a última carta enviada pelo banco, que propôs a quitação à vista no valor de R$ 3,5 mil. No financiamento, segundo a cozinheira, a parcela fica em quase um salário mínimo.

Marizete diz que hoje a dívida influencia na vida social e profissional. "Eu gostaria de ter o nome limpo. Às vezes, perto de casa, indústrias pegam pessoas para faxina, trabalhar na copa, mas muitas empresas não pegam com nome sujo. Já aconteceu comigo. (...) E a cobrança deles é de um jeito que deixa a gente mal. Se a pessoa tem problema do coração, é até perigoso. Eles ameaçam, falam que vai alguém do banco na sua casa pegar suas coisas. Fiquei uma semana sem dormir por causa disso.""Tentei várias vezes negociar com o banco, mas eles fazem propostas absurdas e não tenho condições. Eu pagaria se tivesse. Agora não sei o que fazer, estou desesperada. O banco não para de ligar, faz ameaças. Eu estou desempregada, faço salgados para vender, mas não tenho renda fixa. Quero pagar, mas precisa ser uma negociação honesta comigo", afirma a cozinheira.

"É um crédito muito caro, e o consumidor acaba utilizando mais porque está mais disponível, é menos burocrático do que outras linhas, já está na conta. Não lembra que é um produto com custo muito mais alto e para ser utilizado em situações de emergência. Às vezes usa para pagar uma outra dívida. E todos sabem que pagar dívida com outra dívida não é o melhor, ainda mais com produto de custo tão elevado", destaca o economista do Serasa.'Cada vez mais'

De acordo com o economista Carlos Henrique de Almeida, da Serasa - empresa com banco de dados sobre a situação financeira dos consumidores - "o brasileiro usa muito o cheque especial e tem usado cada vez mais".
Segundo dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), o juro do cheque especial é o terceiro maior do país entre outros tipos de crédito: está em 7,35% ao mês em 2010 (média dos três primeiros meses). Só perde para cartão de crédito (10,68% ao mês) e empréstimo pessoal de financeiras (10,03%).
Donizét Piton, do Instituto Nacional de Defesa dos Consumidores do Sistema Financeiro (Andif)Donizét Piton, 
Mas apesar de os juros já estarem entre os mais altos, podem ficar ainda maiores. Isso porque o Banco Central aumentou no fim do mês passado a Selic, taxa básica de juro da economia, e a perspectiva é de novas altas nos próximos meses. Isso deve se refletir em breve em elevação nas taxas de juro sobradas pelos bancos do consumidor.
Na avaliação do economista do Serasa, muitos brasileiros se complicam com o cheque especial por dois fatores: falta de educação financeira e falta de controle dos bancos na concessão de crédito.
"Muitos acabam incorporando o limite ao salário. Além disso, o banco concede o crédito sem saber o endividamento do consumidor com outras instituições. Isso aumenta a chance do endividamento. Com um cadastro positivo, o bom pagador se favorece. Hoje o crédito é caro porque não se diferencia bom pagador de mau pagador. Os bancos de baseiam em seus relacionamentos com os clientes."
"Os bancos captam recursos no mercado a taxas de não chegam a 8% ao ano. O cliente usa o cheque especial com taxa de 137% ao ano. Isso acontece porque no Brasil não temos uma legislação séria e específica que discipline a atuação dos bancos, que defina piso e limite para as taxas. Os bancos trabalham com juros absurdos, ilógicos para nossa realidade de inflação controlada. Óbvio que gera inadimplência."Juros elevados.

O advogado e especialista em Direito Bancário e Defesa do Consumidor Donizét Piton, do Instituto Nacional de Defesa dos Consumidores do Sistema Financeiro (Andif), diz, no entanto, que o principal motivo da inadimplência no uso do cheque especial está nas altas taxas cobradas.
Em muitos casos, aponta Piton, da Andif, a ação judicial é a única saída. "Nesses casos é preciso levantar o valor exato da dívida e quando já foi pago, juntar provas. Faz-se perícia para verificar a situação exata. Em algumas ações, o consumidor tem sucesso. Mas depende muito da posição de cada juiz."
Ione Amorim, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, concorda que o problema do cheque especial é que "está ao alcance das mãos e os bancos colocam todo o risco nisso, levando os juros à estratosfera."
"Acontece muito chegar em uma situação incontrolável, com o efeito bola de neve. Por uma ou outra razão o consumidor incorpora o cheque especial ao rendimento e uma hora, por excesso de endividamento, não consegue mais cumprir o saldo de sua movimentação".

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