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sábado, 22 de maio de 2010

‘Pequeno gigante', Josué supera a desconfiança até mesmo da família


Baixinho, volante sofreu com discriminação em clubes.


Conhecida como capital do forró, Caruaru, localizada no agreste pernambucano, também é lembrada como a cidade do Mestre Vitalino, famoso artista que moldava os retratos do cotidiano nordestino em peças de barro. No momento, porém, o filho mais ilustre do município tem apenas 1,69m, as pessoas o chamam de Zu e ele será um dos 23 guerreiros que vão à África do Sul tentar o hexa para o Brasil.
Estamos falando de Josué Anunciado de Oliveira, volante do alemão Wolfsburg e que aparece como décimo personagem da série de reportagens especiais do Jornal Nacional sobre os convocados por Dunga para a Copa do Mundo de 2010. Zu tem uma história como a de muitos brasileiros: infância pobre, cheia de dificuldades, mas empurrada por um sonho. E olha que o ex-são-paulino veio de surpresa.
- Não estávamos esperando. O pai dele queria encerrar, mas não chegou a esse ponto e o Josué veio como surpresa. Aí que escolhi esse nome porque sempre fui religiosa e é um nome bíblico, como do meu outro filho, o Josias – lembrou Dionéia, mãe do volante, que ainda tem outras duas filhas: Daniela e Denilza.
As irmãs de Josué tratavam o caçula da família como xodó. Mas não acreditavam que aquele menino franzino pudesse virar um jogador de futebol. Muito menos que ele pudesse chegar a uma Copa do Mundo. Elas estavam enganadas. Só não ficaram fora da Ferrari porque Josué não comprou uma.
- Ele sempre nos disse que não ficaria muito tempo em Caruaru, que ele iria brilhar no futebol. E eu dizia: vai sonhando. E ele respondia dizendo que eu não andaria na Ferrari dele, porque eu não acreditava. Mas afirmava que minha mãe andaria, porque ela, sim, acreditava nele – falou Denilza.
O volante do Wolfsburg dá risada quando lembra a história. O carro de luxo, por sinal, nem está mais na sua lista de sonhos. Suas prioridades mudaram.
- Esse negócio da Ferrari era uma brincadeira. Eu tinha apenas 15 anos quando comecei a jogar no Porto e ganhava apenas uma ajuda de custo de R$ 50. E quando as pessoas diziam para eu esquecer o futebol, eu falava isso. Mas hoje nem quero uma Ferrari. Tenho de pensar na família – comentou o jogador.
Pequeno gigante
Josué tem a mesma altura de Romário. Mas atacantes habilidosos como o tetracampeão têm maior facilidade em superar os preconceitos em relação à estatura. Não é o caso do volante, que ficou quase oito anos no Goiás e depois teve passagem destacada pelo São Paulo, com os títulos da Libertadores e do Mundial.
BOneco Josué são pauloBoneco de Josué no São Paulo )
Agora com 30 anos e a carreira estabilizada, o jogador ignora a discriminação que sofreu no início de carreira, especialmente quando tinha de acertar novo contrato.
- Vamos arredondar para 1,70m, né (risos). Já fui muitas vezes discriminado pelo meu tamanho. Não só nas categorias de base, mas até mesmo no próprio Goiás. Quando eu ia renovar contrato, tinha dirigente que chegava para mim e dizia que não tinha como me pagar tal salário porque eu não tinha mercado. Eu tenho orgulho de ser pequeno. Tudo que conquistei foi com esse tamanho – disse Zu.
Embora o filho já tenha ultrapassado essa barreira, sua mãe ainda fala magoada sobre o assunto. Afinal, nenhuma mãe gosta que falem mal do seu pupilo.
- O Josué sempre teve muita dificuldade por causa do tamanho. Diziam que ele era franzino, que não ia dar em nada. Aquilo me doía o coração – declarou a mãe.
A paixão de Zu pelo futebol, na verdade, sempre foi uma preocupação para Dona Dionéia. Tudo porque ele exagerava nos exercícios. É verdade que não deixou de se dedicar aos estudos, já que sempre tinha boas notas. Mas o fato de jogar bola à exaustão deixou a mãe do volante de cabelos em pé certa época.
- Em todo canto ele tinha uma pelada. Ele jogava tanta bola que ficou desnutrido. Era de manhã, de tarde e de noite, desde os seis anos de idade. Era muito esforço físico para uma criança – contou Dionéia.
Só que o futebol abriu muitas portas a Josué. Desde o começo. Aluno de escola estadual, o volante foi indicado pelo irmão a Ridelson, treinador de um colégio particular. O comandante gostou do garoto e o ofereceu uma bolsa de estudos. Só para que ele jogasse os campeonatos pela sua equipe.
- Eu tenho um carinho muito grande pelo Ridelson. Foi ele quem abriu as portas para que eu ingressasse no futebol. Em princípio ele procurou meu irmão, mas o Josias falou de mim e ele levou os dois – agradeceu Josué.
ARQUIVO PESSOAL DO VOLANTE JOSUÉ
Josué sendo batizado
Josué no dia do seu batizado em Caruaru
Josué no colégio
Josué em tradicional foto escolar
Josué com a camisa do Flamengo
Volante já se vestiu com camisa do Flamengo
Josué com a camisa do grêmio
E também com a do Grêmio
Josué deitado na cama
Josué faz pose com gravata borboleta
carteira da federação pernambucana de futebol de josué
Registro na Federação Pernambucano

Josué pelas irmãs
Dona Dionéia, chefe da família Anunciado de Oliveira, se orgulha da união dos seus filhos. E mesmo com Josué jogando na Alemanha, ela vibra com o fato de eles estarem sempre se falando. O volante, aliás, é uma espécie de exemplo na casa.
- Eu defino o Josué como alguém muito perseverante, que sempre acreditou nos seus sonhos. Confesso que por ser mais velha do que ele ficava aperreada com as chuteiras no meio da sala, mas hoje sou muito feliz com o sucesso dele – falou a irmã mais velha, Denilza.
Atualmente, o jogador do Wolfsburg tem condição de ajudar toda a sua família, mas esse espírito solidário já está em Zu desde adolescente, quando conseguiu seu primeiro salário. Na verdade, uma ajuda de custa no Porto de Caruaru.
- O Zu sempre foi humilde e de coração grande. Mesmo quando ele ganhava bem pouco no Porto, o primeiro nome na lista de conta deles era o da minha mãe. Que fosse R$ 10 ou R$ 20 ele dava alguma coisa para ajudar.
Seleção brasileira
A família de Josué a partir de agora, no entanto, será a seleção brasileira. Junto de mais 22 jogadores, o volante vai tentar o hexacampeonato mundial na África do Sul. E se a escrita permanecer, o torcedor brasileiro pode ficar confiante, porque Zu leva sorte aos times que defende.i
O pai do jogador, José, por sinal, vê semelhanças entre o filho e Dunga, atual treinador do Brasil e ex-volante. Mas, é claro, acha Josué melhor.
- Eu comparo o futebol do Zu com o do Dunga. Ele tem muita raça. Só que ele é mais clássico que o Dunga, mais lapidado – falou José Anunciado.
Para Josué, porém, mais importante do que qualquer semelhança é o ambiente que ele conseguiu criar entre os jogadores da seleção brasileira. Até aqui, os resultados mostram que o time está no caminho certo. Afinal, com Dunga, o Brasil ganhou a Copa América, a Copa das Confederações e liderou as Eliminatórias.
Só falta a Copa do Mundo...

Por GLOBOESPORTE.COM

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