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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A fantástica fábrica de craques

O que mais chama a atenção na premiação da Fifa a Lionel Messi, como melhor jogador do mundo, não é o prêmio em si, por demasiado previsível. É o fato de que, entre os cinco candidatos a ele, três foram "fabricados" em La Masia, a escola de preparação de jogadores do inefável Barcelona: o próprio Messi e os organizadores de jogo Xavi Hernández e Andrés Iniesta.

Mais: dos 11 jogadores que terminaram a partida que deu ao Barça o título de campeão mundial de clubes, seu sexto torneio consecutivo na temporada, oito são "made in" La Masia, fora o técnico Josep Guardiola.

Deve ser recorde mundial. Perguntei em uma mesa com amigos, na sexta-feira, todos apaixonados por futebol, se alguém conhecia exemplo de clube brasileiro que tenha ganho um título significativo com oito jogadores de sua "escolinha".

Ludembergue Teixeira de Góes, velho amigo, grande companheiro, grande jornalista, memória invejável, respondeu que o Corinthians de 1951 era assim. Não sei se chutou ou não. Mas, mesmo que tenha sido assim, o fato é que estaríamos falando de outra era, outro país, outro "business" (pode ofender muitas sensibilidades, a minha inclusive, mas futebol, hoje, é um grande e importante "business").

Na idade contemporânea, nenhum dos grandes clubes brasileiros consegue formar em casa uma massa de jogadores, em quantidade e qualidade como a do Barcelona de hoje em dia. Formam-se, é bom que se diga, não apenas em um estilo de jogo, mas em uma cultura de futebol, uma maneira de entender o jogo que é única e extraordinária, além de resolver o debate eterno sobre a suposta incompatibilidade entre jogar bem e ganhar.

O técnico Paulo Silas, ex-Avaí, agora Grêmio, viajou comigo de Madri a São Paulo, faz 15 dias mais ou menos. Havia visitado o Real Madrid e seu centro de treinamento de Valdebebas. É um rapaz muito inteligente e que tem uma filosofia de futebol bastante interessante. Mas, se eu fosse ele, visitaria La Masia em vez de Valdebebas. Não que o Madrid deixe de formar bons jogadores, mas lhes dá muito menos chances do que o Barça. Prefere comprar jogadores prontos.

No futebol brasileiro, seria ainda mais necessário do que no Barça ou no Madrid formar atletas, posto não há dinheiro para comprar jogadores prontos na quantidade e com a qualidade necessária para evitar que o verdadeiro campeonato brasileiro seja a Liga dos Campeões da Europa, coalhada dos melhores jogadores do Brasil (e da Argentina e do resto do mundo).

Tanto que os únicos brasileiros que entraram na festa da Fifa na segunda-feira foram Kaká (ficou em quinto entre os cinco selecionados para a finalíssima que Messi venceu) e Daniel Alves, o ala do "dream team" mundial --um do Madrid e outro do Barça, portanto.

Já no "dream team" campeão mundial de 1970, todos jogavam no Brasil, até mesmo Pelé, o melhor de todos os tempos.

Clóvis Rossi : da Folha

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