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sexta-feira, 8 de julho de 2011

No ar graças aos pelos das asas

No ar graças aos pelos das asas

Os morcegos usam pelos minúsculos para perceber a velocidade e a direção do ar que passa por sobre as suas asas. De acordo com um relatório publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, isso pode alertá-los em relação ao perigo da estolagem e permitir que realizem acrobacias aéreas.

Os morcegos são os únicos mamíferos capazes de realizar voos propulsionados.

Suas asas são feitas de uma membrana coberta por pelos microscópicos. No passado, os cientistas acreditavam que os pelos eram usados para percepção do ambiente no voo noturno. Porém, estudos sobre eles foram postos de lado há 70 anos, quando se descobriu que os morcegos navegam por ecolocalização.

Susanne Sterbing-D’Angelo, neurologista da Universidade de Maryland, em College Park, e seus colegas passaram a estudar os pelos e descobriram que eles são fundamentais para controle de voo dos morcegos.

Para descobrir que tipo de informação eles coletam através dos pelos das asas, os pesquisadores implantaram eletrodos no cérebro deles e fixaram suas cabeças e asas em uma mesa de isolamento vibratório. Em seguida, sopros de ar foram direcionados aos pelos e a atividade do cérebro foi monitorada.

“São necessários meses para treinar um morcego para voar por um caminho de obstáculos”.

O ar ativou os neurônios no córtex somatossensorial primário – a parte do cérebro que é ativada pelo sentido do tato. As lufadas não foram fortes o suficiente para ativar os receptores do tato na membrana da asa. Por isso, os cientistas acreditam que outros receptores, as chamadas células de Merkel, são ativados pelo movimento dos pelos. Quando os cientistas removeram os pelos das asas usando creme depilatório, os neurônios passaram a não reagir aos sopros de ar.

A ativação dos neurônios era mais intensa quando os sopros de ar atingiam a parte posterior da asa. A corrente de ar que chega por trás pode indicar condições turbulentas. Por isso, a equipe supõe que as informações dos pelos estejam avisando o morcego que é necessário estabilizar o voo.

Controle de voo Os pesquisadores demonstraram que os pelos também são importantes nos voos regulares do morcego. Eles criaram florestas artificiais feitas de redes e troncos de árvores. Os animais foram treinados a procurar na floresta por recompensas de bananas ou larvas de besouro. “São necessários meses para treinar um morcego para que ele voe por um caminho de obstáculos”, afirma Sterbing-D’Angelo. Os morcegos foram filmados enquanto voavam pelo labirinto para realizar a tarefa. Em seguida, os pelos das asas foram removidos e eles foram filmados realizando as tarefas novamente. Sem os pelos, os morcegos passaram a voar com velocidade maior e a fazer curvas mais abertas e com mais cautela.


Os autores desconfiam que a forma de voar dos morcegos sem pelos mudou porque eles têm a impressão de estar sob risco de estolagem. Na aerodinâmica, a estolagem ocorre quando a aeronave está voando muito devagar, o que causa a perda do seu poder de sustentação. Nos morcegos, os receptores presentes no pelo e sensíveis ao fluxo de ar reverso devem perceber redemoinhos frenéticos a altas velocidades. A ausência de sinal desses receptores pode causar neles a sensação de estar voando muito devagar, trazendo o perigo de estolagem, o que faz com que eles acelerem.

Por isso, ao que parece a evolução dos pelos pode ser um atributo essencial para a impressionante capacidade de realizar acrobacias aéreas desses animais, como curvas fechadas, flutuação e manter-se empoleirado de cabeça para baixo. “Esses pelos com os receptores de Merkel talvez tenham evoluído somente nos morcegos”, afirma Sterbing-D’Angelo. A equipe dela realizou testes no morcego-marrom (Eptesicus fuscus), de voo rápido, bem como no morcego-de-cauda-curta (Carollia perspicillata), que paira e se alimenta de frutas. As duas espécies apresentaram o mesmo tipo de alteração de voo quando seus pelos foram removidos.

Algumas ideias já estão surgindo em relação a como o ser humano pode copiar a tática dos morcegos para prevenir acidentes aéreos, entre outras situações. “A estolagem é um problema sério para a ciência da navegação aérea”, afirma Geoffrey Spedding, zoologo que estuda aerodinâmica na Universidade do Sul da Califórnia, em Los Angeles. Ele afirma que o tubo de Pitot, instrumento usado atualmente para avisar quando a estolagem está para ocorrer em uma aeronave, não funciona particularmente bem. Portanto, qualquer melhoria que possa ser conseguida através dos morcegos é bem-vinda.

“Porém, as características do bater de asas de animais nem sempre podem ser aplicadas às asas fixas da aeronave”, avisa ele.

Belinda Batten, engenheira mecânica da Universidade do Estado do Oregon, em Corvallis, pretende usar as descobertas para criar aeronaves não tripuladas mais manobráveis. Essas aeronaves são usadas pelas forças armadas, mas também tem aplicações civis. “Elas podem ser enviadas para o interior de edifícios após um terremoto para procurar por sobreviventes ou podem voar sobre as copas das árvores de uma floresta para contar a população de pássaros”, afirma Batten.

Ela pensa em criar versões artificiais dos pelos das asas do morcego, usando polímeros flexíveis, com bases de cerâmica, que reajam quando tensionados, imitando os receptores de Merkel. Aviões com pelos nas asas? Talvez essa ideia não seja tão estranha.

The New York Times

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